Pesquisa da Unicamp não reconhece traços de glifosato em trabalhadores rurais

Estudo realizado em Nova Mutum (MT) recolheu 90 amostras de urina de homens e mulheres expostos ao herbicida

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Uma pesquisa realizada pelo Departamento de Farmacologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), de São Paulo, não encontrou traços significativos do herbicida glifosato em urina de trabalhadores rurais de Mato Grosso. O resultado foi apresentado nesta sexta (24) na Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja). Os professores doutores Angelo Zanaga Trapé, médico toxicologista, e Paulo César Pires Rosa, químico e farmacêutico, mostraram que, em 90 amostras analisadas a partir da metodologia desenvolvida e validada, em apenas 11 (ou 12%) foram encontrados níveis quantificáveis de glifosato. Nestas amostras, o maior valor encontrado foi de 0,007mg/kg. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Ingestão Diária Aceitável (IDA) é 0,042mg/kg. O relatório informa que o tempo em que estes trabalhadores ficaram expostos ao glifosato antes do estudo não influenciou em maior ou menor quantidade de resíduos, visto que o nível mais alto encontrado foi obtido do candidato nº 19 (7,13ng/mL), com tempo de exposição de 1 ano e 9 meses, enquanto que o candidato de nº 29, com tempo de exposição de 10 anos, não obteve nenhum nível de resíduo quantificável. “Como estudos sugerem uma taxa de absorção de aproximadamente 20%, pode-se considerar que a ingestão possa ter sido até cinco vezes maior que a dose interna encontrada. Assim, o maior nível de resíduo encontrado, 7,13 ng/mL poderia equivaler a uma dose externa de até 0,003mg/kg. Isto é, 7,14% da dose diária aceitável”, relata o pesquisador. Trapé reforçou que “nenhum estudo mostra uma relação causal entre ser agricultor e ter câncer”. O doutor Paulo Rosa explicou que o método de pesquisa foi validado para dar segurança nos resultados e que houve certificação do aparelho utilizado para verificar as amostras. “Ainda temos que ampliar para um número maior de amostras. Porém, este é um projeto piloto que mostra a segurança do glifosato”, afirmou. O vice-presidente da Aprosoja, Fernando Cadore, disse que é de interesse de todos os agricultores ter conhecimento sobre a segurança dos produtos que usa em suas propriedades. “A nossa família está lá, então investimos em pesquisa para saber com o que estamos trabalhando. Como associação, fazemos nosso papel de conscientizar sobre o uso de EPIs. O que nos preocupa são notícias sem conclusão científica e que são disseminadas sem conhecimento”, afirmou. O procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso (MPT-MT), Marcel Bianchini, acompanhou a apresentação e afirmou que tem o interesse de conhecer cada vez mais sobre os produtos. “Estamos sempre preocupados com a questão trabalhista e a proteção do trabalhador. Frente a algumas decisões referentes ao glifosato no Brasil e no mundo, temos que estar por dentro de todas as informações possíveis sobre o produto”, disse.    

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